O queijo de búfala produzido na Ilha do Marajó, no Pará, recebeu o registro de Indicação Geográfica (IG) na modalidade Indicação de Procedência. O registro, concedido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), permite que o nome da região geográfica do Marajó seja utilizado oficialmente na iguaria, atrelando qualidade e reputação a esse produto premiado em concursos nacionais e internacionais.
O queijo também é primeiro produto da região Norte a receber o Selo Arte. Com esse reconhecimento, o produto é identificado como um queijo artesanal tradicional brasileiro, permitindo a sua comercialização em todo o país.
«Trata-se de um produto que traz características do território e da sua gente, e cuja estruturação para o registro como uma indicação geográfica pode gerar benefícios econômicos, sociais, ambientais para as regiões», ressalta a Coordenadora de Indicação Geográfica de Produtos Agropecuários do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Débora Gomide Santiago.
O processo para o reconhecimento como IG teve apoio da Pasta, incluindo uma consultoria de diagnóstico, realizada em 2014.
Tradição e expertise
Segundo a produtora e presidente da Associação de Produtores de Leite e Queijo do Marajó (APLQMARAJO), Gabriela Gouvêa Moura, o registro de IG é a realização de um sonho. «Sempre acreditamos na IG como um instrumento de desenvolvimento local, dando segurança jurídica ao saber, valorizando do mestre queijeiro e principiante preservando a arte na produção do queijo».
A tradição no uso do leite de bubalina para fazer o queijo remonta ao final do século XIX e o início do século XX, quando houve o aumento do rebanho de búfalos na região e o leite da então nova espécie tornou-se matéria-prima para os produtores locais, em sua maioria portugueses e franceses. Atualmente, o Marajó apresenta o maior rebanho de búfalos do Brasil, o que representa cerca de três vezes a população de todos os seus municípios. Os animais se tornaram símbolo da região e são, hoje, parte importante da economia do Marajó.
Até chegar em 2021, com o reconhecimento da IG pelo queijo de búfala, os queijeiros marajoaras registraram outras grandes conquistas. Filha de um tradicional queijeiro marajoara de Soure, Moura lembra que a produção do pai recebeu o primeiro selo de origem do estado do Pará, liberando a venda da iguaria para fora da Ilha.
«Em 2011 tivemos o reconhecimento pela Lei de Produtos Artesanais e, em 2013, a certificação do Queijo do Marajó como o primeiro produto com selo de inspeção sanitária».
Sabor único
O queijo do Marajó nada tem a ver com a mozzarella de búfala de origem italiana, popularmente conhecida no Brasil. Considerado uma iguaria, o queijo produzido no Norte do país é elaborado a partir do leite de búfala cru com fermentação espontânea, principal fator que os diferencia da maioria, principalmente dos produtos industriais.
No paladar, o queijo é mais cremoso com uma leve acidez e um final adocicado. É assim que a vice-presidente da APLQMARAJO, Bruna Luiza Silva, descreve o queijo do Marajó, que apresenta valores nutricionais de 59% a mais de cálcio, 47% a mais de fósforo, 30% a menos colesterol e maior teor de vitaminas A e D.
Como bisneta, neta, filha e sobrinha de uma família de autênticos queijeiros, Silva comemora a valorização do saber-fazer do queijo, que traz em sua gênese a identidade de um povo: «há o sentimento de pertencimento a um território, a fixação de famílias no campo, a manutenção das nossas tradições carregando um modo de fazer único no mundo».
Pela IG, a região na qual o queijo de búfala apresenta o saber-fazer tradicional da cultura local compreende os municípios de Cachoeira do Arari, Chaves, Muaná, Ponta de Pedras, Salvaterra, Santa Cruz do Arari e Soure. Esses locais fazem parte da base territorial do Arquipélago do Marajó, mais especificamente dos chamados Campos do Marajó, Microrregião do Arari, Mesorregião Marajó, no Estado do Pará.
De acordo com estudo publicado pelo Mapa em 2020, a estimativa do número global de produtores de queijos existentes no Marajó indica que há entre 65 a 70 queijarias, sendo que as mais estruturadas chegam a produzir uma média de 60kg/dia a 100kg/dia, em época de safra, e entre 35kg/ dia a 70kg/dia na entressafra.
Selo ARTE
Regulamentado pelo Decreto nº 9.918/19, o Selo ARTE permite que produtos como queijos, embutidos, pescados e mel possam ser vendidos livremente em qualquer parte do território nacional, eliminando entraves burocráticos.
«É a realização de um antigo sonho de produtores artesanais de todo o Brasil. Já para os consumidores, é uma garantia de qualidade, com a segurança de que a produção é artesanal e de que respeita as boas práticas agropecuárias e sanitárias», explica o Coordenador de Produção Artesanal do Mapa, Rodrigo Almeida.
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Fonte Terra
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