O ano de 2020 foi diferente em função da pandemia de coronavírus, que afetou tanto a oferta quanto o consumo de leite e derivados.
No caso do consumo, o isolamento social iniciado em março fez com que os estabelecimentos comerciais permanecessem fechados, interrompendo o escoamento através dos serviços de alimentação. Porém, o pagamento dos auxílios emergenciais sustentou a demanda doméstica e as vendas foram positivas a partir de maio.
Já a oferta de leite (matéria-prima) foi afetada pela elevação dos custos de produção, incertezas devido à pandemia, menores investimentos do produtor e condições climáticas adversas. Com isso, a disponibilidade interna de leite ficou menor no ano.
Preços
A oferta de leite mais ajustada no segundo semestre e o consumo reagindo impulsionaram as cotações do leite pago ao produtor.
De janeiro a novembro (último pagamento consolidado), o preço médio nacional (18 estados pesquisados pela Scot Consultoria) subiu 41% e comparando-se a média de janeiro a novembro de 2020 com o mesmo período de 2019, à cotação subiu 20,2%.
A produção permaneceu enxuta, influenciada pelo clima, e a concorrência acirrada entre as indústrias fez os preços melhorarem.
Por esse motivo também as importações de lácteos após julho cresceram, diminuindo a concorrência entre as indústrias.
Custos
A falta de chuvas afetou tanto a produção dos grãos quanto a disponibilidade de pastagens. Na comparação ano a ano, os custos da atividade cresceram ao longo dos meses, puxados principalmente pelas altas nos custos dos alimentos concentrados, como milho, soja e algodão. Veja na figura 1 as variações mensais do Índice de Custo de Produção da Pecuária Leiteira.
O farelo de soja em São Paulo, por exemplo, de acordo com o levantamento da Scot Consultoria, esteve 22,5% mais caro na média de todos os meses em 2020, comparado com o mesmo período do ano passado. O milho em grão, por sua vez, subiu 38%, ante mesmo período.
Dessa maneira, as altas nos preços dos insumos foram sentidas pelos produtores, porém, a demanda forte pressionou o preço do leite pago ao produtor, permitindo uma boa margem (figura 2).
Em novembro e dezembro, em função da oferta ajustada, o viés é de estabilidade devido às condições de clima e de preços de insumos, diferentemente do padrão de comportamento da oferta de leite no campo nos meses em questão.
As margens deverão ser apertadas em médio prazo, com as quedas previstas nos preços do leite ao produtor nos próximos pagamentos (safra) e insumos ainda em patamares elevados.
Expectativas
A queda no câmbio (redução dos custos) e o aumento no volume de chuvas são fatores favoráveis para o aumento da produção, principalmente no final deste ano e primeiro bimestre de 2021.
Dessa forma, o viés é de baixa no mercado do leite até fevereiro/março de 2021, no entanto, essa pressão deverá ser mais amena nesta safra.
Para o ano que vem é esperado um preço médio do leite acima do registrado em 2020, no entanto, atenção aos custos de produção, que poderão cair comparativamente com 2020, mas ainda assim se manterão em patamares mais altos que em anos anteriores.
Do lado da demanda, acredita-se numa recuperação do cenário macroeconômico no ano que vem, ainda que existam muitas incertezas quanto aos fatores como a pandemia (segunda onda/vacinação), fim do auxílio emergencial e recuperação da economia mundial, que podem impactar sobre a oferta e demanda de lácteos.
Há ainda uma previsão de forte crescimento da demanda na Ásia, o que é bom para as exportações brasileiras em geral. Além disso, as baixas taxas de juros tendem a redirecionar capital do mercado financeiro para a economia real, o que deve contribuir para a retomada da economia.
Fonte Scot Consultoria
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