Dado o crescente impacto da sustentabilidade no retorno dos investimentos, acreditamos que a base mais forte para os portfólios dos nossos clientes no futuro é o investimento sustentável.». Quem falou isso não foi um empresário hippie ou uma cooperativa de produtos sustentáveis, mas Larry Fink, bilionário americano e CEO da BlackRock, maior empresa em gestão de ativos no mundo.
A percepção de que sustentabilidade precisa ser posta em prática no mundo corporativo tem se espalhado rapidamente pelas grandes empresas ao redor do globo. A francesa Danone incorporou, em 2018, a assinatura «One Planet, One Health». O slogan, no entanto, não é novo. Remete a uma frase de Antoine Riboud, um dos fundadores da empresa nos anos 1970. Riboud já falava em desenvolvimento sustentável e reciclagem nessa época, antes de se tornarem conceitos disseminados no mundo dos negócios.
«Investidores agora avaliam se as empresas estão lidando bem com o risco climático, se isso está incluído no planejamento e se elas têm ações para lidar com o risco de transição — ter uma menor intensidade de carbono na produção, usar energia mais limpa, uma logística mais eficiente. Isso tudo é bom pro ambiente mas também está sendo bom pra reputação e competitividade do negócio», disse a Ecoa o coordenador de programa do Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV-Eaesp, Guarany Osorio.
Primeiro passo para produção sustentável A Danone anunciou na última terça-feira (6) ter alcançado três dimensões de produção sustentável (neutralidade de carbono, circularidade da água e zero resíduos para aterro sanitário) em uma planta de Poços de Caldas (MG). A unidade é especializada na fabricação de fórmulas lácteas e suplementos em pó para crianças e adultos e é a primeira da empresa a atingir esse marco.
A Planta de Nutrição Especializada da Danone, em Poços, foi certificada nesses três âmbitos pela empresa de análise em sustentabilidade Carbon Trust. A certificação é revisada e auditada anualmente pela empresa.
«Esta certificação é um reconhecimento prático, porque podemos [até] dizer que nos preocupamos com o planeta, mas temos que agir de acordo», disse a Ecoa Edson Higo, o presidente da Danone Brasil.
Como funciona na prática
O especialista Osorio reforça que o Brasil não possui uma regulamentação de como construir essa meta de neutralidade de carbono. «Qual o padrão, como relatar as emissões, como prezar por integridade ambiental, quanto reduzir internamente [as emissões] e quanto usar de compensação… A gente tem que olhar com um certo ponto de atenção e verificar o grau de transparência que as empresas estão dando pra essas metas. Isso é o mais importante, tanto pra sociedade quanto pros analistas de investimentos», afirmou.
A unidade da Danone, em Poços de Caldas, está em funcionamento desde 2016. Tem 100 mil metros quadrados e conta com 160 trabalhadores. Os esforços para obter a certificação começaram há dois anos, e foram possíveis por se tratar de uma planta recente e pelo tipo de produção que realiza, como explicado abaixo.
Para atingir a neutralidade de carbono
Trocar a matriz de energia para fontes renováveis costuma ser o caminho mais direto para a redução das emissões diretas de um negócio. E foi justamente isso que a fábrica fez com uma mudança para o consumo de energia limpa.
Parte dela é gerada na própria unidade, a partir de 1.500 painéis solares que cobrem o estacionamento e passarelas na fábrica. A eletricidade adicional necessária também é adquirida de fontes renováveis, como a eólica. Com isso, a planta reduziu em 90% suas emissões de carbono relacionadas à energia desde 2018.
As emissões restantes são compensadas pela compra de créditos alocados em projetos de conservação desenvolvidos pela BioFílica, empresa brasileira com foco no manejo e conservação florestal. Certificada como neutra em carbono pela Carbon Trust em junho, a planta precisou atender aos requisitos do padrão PAS 2060, especificação aplicável internacionalmente.
Investir em circularidade da água
Para que isso aconteça, a fábrica não pode extrair água do solo ou dos rios da região. A planta passou, então, a ter suas necessidades hídricas — 4 milhões de litros por ano, segundo a empresa — atendidas por um sistema de coleta e tratamento de água da chuva que garante sua autossuficiência.
Vale destacar que, como a planta trabalha apenas com produtos secos, o uso de água não é parte de seus processos industriais. O recurso hídrico é usado para a manutenção dos edifícios, ao abastecimento de banheiros e ao consumo dos funcionários.
Zero resíduos indo para aterro
A reciclagem e a compostagem são responsáveis por recuperar aproximadamente 99% dos resíduos gerados na unidade. A fração final, de 1%, é definida como resíduo perigoso e encaminhada para coprocessamento, um tipo de incineração que aproveita a energia contida nos materiais. As emissões geradas nesse processo são compensadas com a compra de créditos de carbono, alocados em projetos da BioFílica.
Segundo a empresa, a planta não envia nenhum resíduo para aterro desde maio de 2020 e, com isso, obteve o certificado de zero resíduo.
Metas para o futuro
Segundo Sumathi Manjunath, diretora de sustentabilidade da Danone Global, outras fábricas da multinacional de alimentação no mundo — em países como Irlanda e Nova Zelândia — estão seguindo os passos da planta de Poços de Caldas na busca pela certificação tripla.
«Temos uma fábrica na Nova Zelândia com um investimento de R$ 147 milhões para criação de biomassa que reduzirá o impacto das emissões de carbono. Estamos [investindo] de verdade», disse em conversa com Ecoa.
Um dos principais objetivos de sustentabilidade da Danone é zerar as emissões líquidas de carbono em toda sua cadeia de valor até 2050 e de reduzi-las em 30% até 2030. «Teremos outras fábricas indo nessa direção [produção sustentável nas três dimensões], mas neste momento não consigo te dizer quando a certificação tripla vai acontecer», comentou Manjunath.
A maior parte das emissões da Danone vêm da agricultura. Então, uma mudança significativa no negócio como um todo requer ações da empresa que ultrapassem fábricas pontuais. Nos últimos anos, a multinacional lançou projetos para impulsionar a agricultura regenerativa.
As empresas estão realmente numa corrida e se uma empresa no Brasil está colocando uma meta hoje, não é porque ela é obrigada pelo governo. A política pública no Brasil não obriga a empresa a ter, mas ela percebe que não pode ficar parada, que isso é uma agenda de médio e longo prazo e ela vai estar aqui independente de quem seja governo.
Fonte: Edairy News
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