Manter a produtividade aliada a um leite de qualidade é um dos desafios da pecuária leiteira. Para isso, o bem-estar animal entra na lista de prioridades para produtores do setor.
De olho nisso, cada vez mais empresas de segmentos como insumos e medicamentos voltados a esse nicho apostam na efetividade de produtos e na redução do estresse animal.
“O animal que não é bem cuidado, que não recebe atenção ao bem-estar, não produz com todo seu potencial”, resume o veterinário Guilherme Moura, gerente técnico de animais de produção da Vetoquinol Saúde Animal.
Moura ressalta que, hoje em dia, empresas e consultorias vêm trabalhando para trazer o conforto máximo ao animal. “Há novas tecnologias de ambiência e, em termos de medicamentos, bem-estar significa tirar a causa da doença ou do sintoma o mais rápido possível”, explica.
Nesse cenário, são introduzidos produtos que necessitam de apenas uma aplicação no animal, por exemplo. “Eu não preciso ficar manipulando esse animal com várias injeções, eu consigo diminuir. Porque aplicar a injeção, prender o animal gera estresse”, comenta.
Os bovinos leiteiros sofrem com inúmeras enfermidades causadas por bactérias, fungos, vírus, vermes e outros microrganismos. Entre as principais doenças que atingem os rebanhos estão a mastite, a pneumonia, a diarreia e o timpanismo (acúmulo de gases).
A estimativa da redução da produção de um animal com mastite, por exemplo, é de 450 litros por vaca – já o descarte da proteína animal fica em aproximadamente 260 litros. Esses números referem-se à mastite ambiental, que ocorre quando a infecção tem origem no local onde vivem os bovinos, seja por meio de matéria orgânica, fezes ou barro onde as bactérias se desenvolvem.
Para o tratamento, a Vetoquinol apresenta uma combinação de medicamentos – antibiótico e anti-inflamatório – em dose única, com o intuito de combater os patógenos causadores da mastite e proporcionar melhoria no bem-estar dos animais. “São tecnologias de ação mais rápida para que esse animal possa expressar todo o potencial de forma natural, melhorar a imunidade, recuperar a saúde e voltar a produzir”, completa Moura.
90 dias vitais
O período chamado de 90 dias vitais – 60 dias antes do parto e 30 dias após o nascimento do bezerro – também requer cuidados contínuos, preventivos e de manejo a fim de que o potencial produtivo das fazendas, a qualidade do leite e o bem-estar do rebanho sejam mantidos.
O veterinário Perci Janzen, gerente de Nutrição de Ruminantes Brasil da Elanco, explica que a falta de manejo adequado nesse período pode resultar em perda de saúde do animal e, como consequência, queda na produtividade e na qualidade. “O animal não vai responder com todo o potencial genético dele na produção de leite. Além disso, a vaca vai demorar para se recuperar e entrar em um novo ciclo reprodutivo”, explica.
Nesse período de 90 dias acontecem grandes alterações físicas e metabólicas no animal, naturais à transição entre o período seco e a lactação, que devem ser acompanhadas a fim de evitar problemas que podem impactar a saúde do animal.
Especialistas da Elanco apontam que, no período seco – 60 dias antes do parto – as estratégias de manejo requerem cuidados para a regeneração e saúde da glândula mamária da vaca leiteira, como o uso de terapia para secagem da vaca ou terapia de vaca seca; programas de prevenção de mastites e de vacinas para a proteção da função imune do animal no período pré-parto.
Já no pós-parto imediato, a prevenção de doenças metabólicas relacionadas ao balanço energético negativo da vaca se justifica em todo o período, mas principalmente nesta fase dos 90 dias, quando podem ocorrer quadros de cetose, de febre do leite ou de infecções uterinas graves, como a metrite.
Esses problemas são decorrentes de falhas no balanço energético ou no sistema imune da vaca e podem aparecer sequencialmente, um como consequência do outro. A incidência da hipocalcemia puerperal, por exemplo, aumenta em até nove vezes as chances de a vaca apresentar cetose, segundo apontam estudos.
A Elanco Saúde Animal possui em seu portfólio soluções específicas aos 90 dias vitais, como suplementação preventiva para a hipocalcemia; medicação para otimizar a função metabólica do animal e prevenir a cetose; e aditivo nutricional.
Produtor está atento e investindo em treinamento e capacitação de mão de obra, diz Fernanda Hoe, diretora geral da Elanco no Brasil — Foto: Elanco/Divulgação
“É um período da vida da vaca super precioso, que exige muitos cuidados e muita atenção por parte do produtor”, afirma Fernanda Hoe, diretora geral da Elanco no Brasil. Ela também destaca a importância do bem-estar animal e de como os produtores têm priorizado a questão. “Essa é uma preocupação, tendo em vista até a exigência do mercado consumidor”, frisa.
Fernanda observa que o produtor está atento e investindo em treinamento e capacitação de mão de obra, visando as boas práticas no campo, melhor manejo do rebanho e uso racional de medicamentos veterinários.
Eficiência na ração
Outro ponto relacionado ao bem-estar animal é a busca por uma alimentação adequada ao rebanho leiteiro. Além dos custos da ração – que acompanham a volatilidade dos preços do milho e da soja, principais insumos utilizados na composição -, o desafio é buscar o melhor aproveitamento nutricional.
“Hoje, já é possível fazer uma proposta nutricional voltada para a melhoria do desempenho do rebanho e para a redução de custos do produtor”, afirma Jefferson Bittencourt, coordenador de projetos especiais da Quimtia Brasil.
A sanidade animal depende de alguns fatores, entre eles a saúde intestinal. Bittencourt explica que uma opção para isso é a inclusão da enzima exógena no composto alimentar, a fim de melhorar a digestão dos ruminantes. Ele destaca que essa tecnologia age no metabolismo animal e tem se mostrado eficaz também no desempenho das vacas leiteiras.
“É uma solução para a nutrição desses animais, com melhor aproveitamento dos nutrientes, tendo em vista que eles não digerem totalmente os insumos utilizados na ração”, comenta. A ação enzimática contribui para o bem-estar uma vez que atua diretamente no trato digestório dos animais.
Sistema desenvolvido pela Rúmina faz o monitoramento do tanque de leite a distância e em tempo real, enviando alertas via celular — Foto: Rúmina/Divulgação
Qualidade do leite
Além de estar relacionada ao bem-estar animal, a qualidade do leite também depende do armazenamento adequado do produto, após a ordenha. Assim, juntamente com os cuidados com alimentação e sanidade dos animais, é recomendado o acompanhamento do leite no tanque de resfriamento. No caso do motor ser desligado e isso não for percebido rapidamente, a produção de um dia pode ser perdida.
Uma das soluções para evitar que isso ocorra é um sistema desenvolvido pela Rúmina, que atua com tecnologia e experiência digital inteligente voltada para as fazendas. Leonardo Araújo, gerente comercial da empresa, destaca um produto da marca que faz o monitoramento do tanque a distância e em tempo real, enviando alertas via celular ao identificar alterações.
Composto por um sensor, o equipamento acompanha dados como volume, temperatura, sistema de agitação e refrigeração, abertura da tampa e energia, auxiliando na ordenha, coleta e armazenamento. “Ele permite um olhar focado nas informações do presente, possibilitando melhores estratégias para o futuro, ao contrário dos que não possuem a tecnologia e acabam se baseando apenas em informações tardias”, adverte.
Carolina Mainardes
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